O 13 de maio iniciou-se em comemoração da sanção da Lei Áurea, assinada pela então Princesa Isabel, uma lei que só foi possível por pressão popular nacional e internacional, e que apesar de significar o fim da escravatura, manteve a população negra na mesma situação em que se encontrava. Sem políticas públicas e respaldo financeiro adequado, homens, mulheres e crianças negras foram marginalizados, enquanto imigrantes de outras etnias recebiam incentivos governamentais para sua manutenção do Brasil.
Segundo o Prof. Dr Benedito, existem duas correntes abordadas dentro da história referente ao período de escravidão. A primeira fala sobre o negro em situação escrava como um objeto, e que aceita de forma submissa a sua escravidão. Essa linha de pensamento foi aceita e propagada pela elite brasileira principalmente no século 16 e 18, concepção essa formada por convicções religiosas. A segunda linha de pensamento histórico traz a pessoa negra escravizada como alguém que resiste, que sabe que não nasceu escravo, e muito menos aceita essa condição. Essa linha fica ainda mais evidente quando pensamos nos quilombos, que eram formados por negros que fugiam da situação escravocrata aos quais se encontravam, e formavam comunidades que sobrevivem até hoje.
Arara
A comunidade quilombola Arara fica a aproximadamente 20 quilômetros de Teixeira de Freitas, são quase 300 moradores descendentes diretos de pessoas que foram escravizadas aqui no Sul da Bahia, e que conseguiram fugir. Seu Zuza tem hoje 84 anos, casado com dona Nilza e pai de 14 filhos, sua avó nasceu livre, mas sua bisavó existiu na realidade de escravidão. Ele conta com orgulho como nasceu e cresceu na comunidade junto com seu irmão gêmeo, que hoje não enxerga mais, mas mora ao lado.
Aprendeu com sua mãe a importância e o valor do cacau, e até hoje é uma das fontes principais de renda da família. Foi com ela também que aprendeu a preparar o cauim, um alimento feito a base de mandioca ralada e cana de açúcar, do qual relembra com saudosidade e promete que fará ainda esse ano, falta apenas o pote de barro.
Ao falar sobre a juventude, relembra os tempos do batuque, que descobrimos ser uma espécie de luta onde o objetivo era derrubar o adversário, sempre em tom de brincadeira. Apesar do nome nos lembrar de termos usados no candomblé, seu Zuza corre em afirmar sua fé em nossa senhora. A família sempre foi católica fervorosa, rezavam sempre de manhã e à tarde, e nunca pulavam os ofícios de Nossa Senhora. Vale lembrar que o candomblé foi visto como bruxaria e reprimido de forma intensa, principalmente pela junta policial da época. O sincretismo religioso foi a forma de sobrevivência da fé, que assim como tradições, idiomas e dialetos, costumes e crenças foi se perdendo ou se ressignificando com o tempo.
Esse é um dos medos de Seu Zuza, que a história se perca. Ele conta com orgulho sobre o caderninho onde escreveu várias de suas aventuras da infância e juventude. Nesse momento fica ainda mais evidente que apesar do catolicismo social e fervoroso, as religiões ancestrais estiveram presentes na vida não apenas de seu Zuza, mas de todos à sua volta também.
O Prof.Dr Benedito de Souza Santos foi imprescindível para realização dessa matéria, ele é referência em estudos Africanos e trouxe informações valiosas para construção desse material, além da base para entender e aproximar da realidade de Seu Zuza. Graduado em História e Sociologia – UNEB, pós-graduado em História da África e História do Brasil pelo Centro de Estudos Afro-Asiático – CEAA/UCAM-RJ, Mestre e Doutor em Estudos Africanos pela Universidade Federal da Bahia – Pós-Afro/UFBA, com pesquisa sobre o avanço do agronegócio e a emergência étnica no Extremo Sul da Bahia, o que o difere entre tantos outros é o fato de fazer parte da 5ª geração de pretos livres em seu lado paterno.
Tanto seu Zuza quanto o Professor Benedito caminham pelo mesmo lado da história. História essa que não começou com a escravidão como fomos levados a pensar por muito tempo, mas que vem de antes, e principalmente do depois. O 13 de maio hoje é símbolo de luta e conquista para a população afro-brasileira, pois só um povo que conhece sua história tem condição de mudar o seu futuro.